Sobre a Exposição Individual Whether There Be Shine or Gloom, 2023, a artista escreve:
Estamos então a cair no epicentro da tempestade, onde habita uma pressão intensa, a precipitação que não se deixa reprimir, uma imprevisível falta de controlo e fôlego. O horizonte perde-se de vista, isolamo-nos ainda mais a convite dessa condição. É aqui que a incerteza, a ânsia e a melancolia absorvem-nos e só persiste a bruma. Encontramo-nos, de repente, num profundo desamparo e tornamo-nos os passageiros que almejam dias melhores, presos na pressa de chegar à bonança. Contudo, abraçar a tormenta é entender que afinal a natureza mostra a sua força também para nos ensinar a tê-la, sob a sua influência, em sincronismo com ela, ou não.
A escuridão tem de estar clara. Devemos estar sempre alerta da sua durabilidade e intensidade, para que possamos perceber que há amparo e existe forma de nos erguermos quando se ama a beleza do abismo. Resta-nos ser os meteorólogos do nosso estado de tempo, dele ter perceção, quer haja brilho ou escuridão.
Susana Aleixo Lopes
Janeiro, 2023
Sobre a Obra Who’s in Control?, 2021, a Artista escreve:
Olho-me refletida, mas não me vejo.
Um Duplo. O inverso. A Reflexão.
Quem controla quem afinal?
É que o meu instinto grita e eu nem sei a origem do eco que do nada anseio seguir cegamente.
Vou?
Logicamente hesito, evito mais uma memória que ecoará e procuro um porto seguro.
Nem um, nem outro.
Olho-me refletida, mas não me vejo.
Reflito e ao mesmo tempo respondo às minhas contradições.
Abraço as minhas sombras no escuro da solidão para saber que aceito da mesma forma o meu brilho, mas não me prendo a nenhum.
Tenho escolhas nos fragmentos das minhas memórias.
Vou a julgamento, confronto-me e questiono.
O que me incendeia a vida?
Texto apresentado no vídeo:
There you are
Lost in the smoke
Of the fire I (you) provoke
I look different (the same) now
Seduced by your lies
Illusions in disguise
My truth is out (hidden)
Sucking your soul
Who’s in control?
That sinful face
The animal you embrace (hate)
Alone with my suspicion (the facts)
Next time
Trust your intuition
Susana Aleixo Lopes
Julho, 2021
There you are
Lost in the smoke
Of the fire I (you) provoke
I look different (the same) now
Seduced by your lies
Illusions in disguise
My truth is out (hidden)
Sucking your soul
Who’s in control?
That sinful face
The animal you embrace (hate)
Alone with my suspicion (the facts)
Next time
Trust your intuition
Susana Aleixo Lopes
Julho, 2021
Sobre a Exposição Individual Beautiful (w)Inner Battle, 2021, a artista escreve:
Pedra a pedra num espaço circunscrito constrói-se uma fogueira. Das que à sua volta estariam alegres todas as pessoas que te rodeiam. Junta-se a lenha, acendem-se as chamas. Estás só tu e uma fogueira a fazer uma espécie de ritual, dizem que o fogo purifica.
Moldura a moldura, relacionadas com presença de uma imagem, fotografias de um momento estático que é passado e nem te reconheces. Juntam-se à lenha, ateiam-se chamas maiores, partem-se e derretem-se os vidros. Das imagens agora revoadas em cinza surgem palavras, pensamentos e antigas crenças sobre ti.
Pedra a pedra, uma fogueira agora extinta. Moldura a moldura, carvão com palavras cravadas.
A intuição alertou-te para a mudança e para mudar é preciso deixar. Questionas o conforto e o medo do desconhecido, mas mesmo assim avanças, sem medo das novas falhas e libertas-te do que já não te serve. O passado que te persegue é passado, ainda assim perguntas como seria se tivesses ficado.
Em cada pensamento, uma contradição. Em cada emoção, uma nova atitude.
Mostras o resultado da tua vulnerabilidade, sem medo. Superaste as falsas crenças que te imobilizaram a ação, mas como vais seguir em frente sem te causar tanta dor? Momento a momento, aprendes a reinventar-te e a lidar naturalmente com a beleza que tem uma batalha interior.
Texto da Exposição:
I Knew I was the one to blame but in reality I felt no shame.
In order for me to grow (I've killed the flame)
It was time to take some action
Although deep down I wanted to stick around (I feared that rejection)
I said goodbye I'm moving forward I'll give myself a chance for (Another failed romance)
I am not afraid but I still wonder (what if I stayed)
Susana Aleixo Lopes
Fevereiro 2021
I Knew I was the one to blame but in reality I felt no shame.
In order for me to grow (I've killed the flame)
It was time to take some action
Although deep down I wanted to stick around (I feared that rejection)
I said goodbye I'm moving forward I'll give myself a chance for (Another failed romance)
I am not afraid but I still wonder (what if I stayed)
Susana Aleixo Lopes
Fevereiro 2021
Sobre a Exposição Individual Nos Queda El Horizonte, 2020, a Artista escreve:
Desvanece a última chama de fogo que era ainda visível e no seu derradeiro suspiro, sobressai o negro da paisagem. Num cenário queimado, de reduzida matéria ainda palpável, permanecem as sombras, o carvão, as cinzas.
Desse lugar recolho e preservo alguns fragmentos, de mim, de ti, de nós. Nascemos e começamos este processo presos na matéria do nosso corpo, expondo o amadurecimento da textura da nossa pele protetora. Somos agora indistintos daquele movimento da chama luminosa e quente a caminhar involuntariamente para aquele pó cinéreo e frio.
Se dermos conta da chama que em nós habita, vemos que a alma arde e com ela aprendemos tanto sobre a nossa semelhança com a natureza. Na procura por serenidade e equilíbrio, rodeia-nos o caos de um mundo imperfeito sujeito à destruição. Esquecemo-nos que o invisível também é real.
Ao que restou do incêndio por nós provocado sentimos, silenciosamente, que o interior carece da nossa atenção. O que ficou de mim, de ti, de nós? É necessário observar, cuidar, ampliar a essência.
De início, o que arde com intensidade sente que diminui e arrefece com vontade de renascer melhor. O que acaba em cinza regenera noutra forma, a seu tempo.
Verticalmente caminhando, aceitamos que só nos resta o horizonte.
Susana Aleixo Lopes
Janeiro, 2020
Sobre a Exposição Individual No One Can Tell, 2018, a artista escreve:
O que estava esquecido regressa de um inconsciente longínquo. Renasce da escuridão e realçam-se pequenos pontos de luz como pormenores que se conectam. Regressa, não resiste ao que os sentidos de vez em quando provocam. Mas não se revela.
Processo cíclico de uma realidade que aos poucos se distorce com ou sem opção perante uma mente inquieta. É um progresso, uma oportunidade de refazer e reinventar o que já está intrínseco como uma memória petrificada que outrora fluía. Um desafio que se deve construir com cuidado. Pouco se revela.
É preciso tempo. Pensamentos e memórias por vezes residem confusos e com diferentes versões para que tudo se torne tolerável. É tão pouco o que revelo na imensidão daquilo que detenho.
Vivo com estes pensamentos e memórias e aprendo a lidar com essas realidades nunca antes partilhadas colocando máscaras e capas. Surgem e ressurgem, mas jamais se revelam na totalidade. Ausentam-se, mas permanecem como um segredo mudo.
Susana Aleixo Lopes Agosto, 2018
Sobre a Exposição Individual O Vazio Preenche-se, 2017, a artista escreve:
[O vazio.]
Na minuciosidade desse encontro percebemos que tudo vem do vazio e para ele se caminha. É de onde vimos e para onde vamos. O começo, o fim. É o nada, o ar, o espaço entre. É o negativo como forma. É a queda da ausência à matéria, o excesso. Um caminho atractivo de uma realidade distorcida, um mergulho no abismo desesperante e inevitável. É um colapso da fuga, um estado de espírito. Um momento ou uma etapa. Uma vontade insaciável e presente. O vazio é uma escolha, é fulcral para o despertar do sentido da vida.
É individual, uma virtude, uma possibilidade no interior da aparência. É externo, interno, e pode ficar suspenso na sua metamorfose. Passa despercebido, ou fica alerta para os vestígios deixados de um abandono de si. Ele espreita(-se), observa(-se) de perto ou de longe. Pode estar exposto ou camuflado, criar barreiras contra todos os danos. É ignorado ou aceite. O vazio é a negatividade a operar positivamente porque ele é fértil, essencial no percurso cíclico que impulsiona a procura de nós próprios.
Aos poucos ou de repente, e com a certeza de que volta, o vazio preenche-se.
Susana Aleixo Lopes
Dezembro, 2017
Sobre o trabalho Becos Sem Saída Fazem Parte Do Caminho, 2017, a artista escreve:
Dez momentos de um caminho. Um caminho que ainda percorro, ramificado e extenso, tortuoso e por instantes, por meros instantes, triunfante. Dou passos largos e pequenos, pesados e leves, hesitantes e por vezes em falso. Dou mais um passo em frente, um beco sem saída. Não tenho alternativa. Vagueia nele uma incerteza constante e perco-me de vista. Desisto.
Quero desistir mas continuo, volto para trás e observo melhor o que naquele momento me escapou e caminho pela serena e conflituosa desordem emocional que se instala na angustia de chegar. Caminho pela procura pessoal inerente à intensidade com que vivo cada fase da vida. Estes momentos marcantes são solitários, medonhos mas purificantes. O percurso que faço só, é intenso, observado e repleto de nuances positivas e negativas, de novas percepções de espaço e tempo.
Um beco sem saída.
Perco-me, desta vez, dentro de mim. Espreito-me. Dedico-me aos processos dolorosos, guardo-os mas caminho pelas mudanças e analiso o momento presente e transitório, faço uma abordagem espectulativa sobre o futuro e projecto em pensamento a vitoriosa dor desse caminho. Não desisto. Persisto. Aceito e enfrento os obstáculos. São eles que me vão fazer continuar neste labirinto.
Os becos sem saída fazem parte do caminho. Afinal, fui eu que o escolhi.
Susana Aleixo Lopes
Setembro, 2017
Sobre a Exposição Individual Por Um Fio, 2015, a artista escreve:
Por um fio é uma apresentação de diferentes e diversas realidades emocionais que se manifestam, numa fase habitada sobretudo, por silêncios interiores. Assim, revela-se como uma conexão entre questões e pensamentos que conduzem a uma desorodem emocional, numa serena e conflituosa procura pessoal.
Resultando, nesse preciso momento, na sensação, comum e familiar, que atingimos um limite – estamos por um fio; a transformação de uma tensão simultânea com uma sensação de descarga de uma energia acumulada, provocada por um remoinho emocional de hesitações, dúvidas, inquietações, inseguranças e indecisões; um interminável ciclo tentativa-erro, tendo como objectivo final apenas a possibilidade do alívio.
Por um fio:
Uma tentativa de fuga marcada por gestos inquietantes e impulsivos de uma necessidade de libertação total.
Sinais de contágio de um passado que fecha, abre e teima a desaparecer.
Um instinto caótico que faz encontrar um número absurdo de 1.390 formas de tortura.
Um remar contra a maré que apenas nos últimos instantes concluis: deixa-te ir.
Silêncios que pesam mais que um falar, e na verdade, o que existe é um verdadeiro pesar de consciência no silêncio. Uma incerteza de pegar ou largar que regista o gráfico de uma possessão.
Uma procura pelo equilíbrio que é o caminho certo para o desequilíbrio total e não compensa.
Uma ferida que pode não ser regenerável.
Um caminho até que os sentidos nos separem.
Um esforço tremendo para um mapa mental do inútil.
Uma conclusão de que naturalmente falhamos.
Susana Aleixo Lopes
Junho, 2015