Ensaios Sobre a (In)flexibilidade do Natural - Parte I
Texto da Curadora - Andreia César
Em Susana Aleixo Lopes a relação com a concepção de natureza firma-se pelo entendimento da matéria como simultaneamente o ponto de partida e de chegada. Um compromisso com a matéria - procura-se a vida intrínseca aos entes transformados pela minúcia e delicadeza dos gestos. Enamora-se a forma, o imaginário sobre o natural realça-se, ganha corpo e peso num processo onde facilmente denotamos a sobrevivência de referente romântico.
O foco está no sentido vital e indómito do mundo natural: uma lente amplia o centro de um tronco de árvore, a visão quer-se por dentro, até ao começo, ou então o reverso, no fim, no negro profundo do carvão que se alicerça no amplo universo simbólico associado ao natural.
Abre-se o terreno sobre o qual se encontram novas formas - a fragmentação, geometrização e articulação de um carvalho queimado - tornando sensível a maleabilidade das nossas definições, ora nada de físico ou factual existe nas nossas relações simbólicas.
2017
Andreia César
O foco está no sentido vital e indómito do mundo natural: uma lente amplia o centro de um tronco de árvore, a visão quer-se por dentro, até ao começo, ou então o reverso, no fim, no negro profundo do carvão que se alicerça no amplo universo simbólico associado ao natural.
Abre-se o terreno sobre o qual se encontram novas formas - a fragmentação, geometrização e articulação de um carvalho queimado - tornando sensível a maleabilidade das nossas definições, ora nada de físico ou factual existe nas nossas relações simbólicas.
2017
Andreia César
O Vazio Preenche-se | Susana Aleixo Lopes
Texto do Curador - Volker Schnüttgen
A principal diferença entre o processo do trabalho do cientista e do artista é a relação com a objectividade e subjectividade. Enquanto o cientista tenta evitar qualquer manipulação durante a observação do seu objecto da investigação, o artista parte da sua subjectividade, de si próprio. Mesmo analisando o mundo fora de si assume uma visão desse mundo filtrado por seu próprio olhar. Consequentemente qualquer obra de arte tem sempre alguma parte autobiográfica incluída.
Defendo porém que uma obra bem concebida ganha a sua própria autonomia: não necessita do autor, a presença dele ou uma explicação. Necessita do público, da subjectividade do observador, da sua leitura. Esta invocação do público com a obra, a soma de múltiplas interpretações subjectivas, transforma-a num valor comum, e no caso das grandes obras-primas numa propriedade cultural universal.
Na exposição presente “ O Vazio Preenche-se” na Biblioteca da Universidade Nova de Lisboa na Caparica a autora Susana Aleixo Lopes assume a sua subjectividade no processo criativo por excelência. Nasceu naqueles rochedos rodeados pelo infinito do oceano – eternamente em movimento - no meio do Atlântico. Onde até a terra sólida de vez em quando se mexe.
Em 2007 entrou na Faculdade das Belas Artes da Universidade do Porto e a partir daí começou a odisseia no vasto oceano da Arte Contemporânea. É uma navegação sem bússola, sem leme, no vazio da escuridão, sem luar com as estrelas apagadas.
Os objectos das transformações da Susana são como madeiras flutuantes, encontradas a cruzar o seu rumo no vazio do mar, acolhidas e guardadas com muita atenção. Objectos aparentemente pobres tornam-se nas suas mãos nobres. Amacia-os com todo cuidado até apareceram os anéis anuais com toda a clareza. Ganham uma superfície suave com um toque sensual. Cava o centro de uma rodela de madeira minuciosamente até encontrar a medula, o embrião da árvore, e protege-a com uma lente de vidro. Acrescenta pequenos objectos – a cor dourada do latão - que como um colar ou anel de joalharia acentuam a beleza do material. Queima as superfícies com maçarico a mostrar a essência do Ser orgânico: o carbono de um negro absoluto.
Os trabalhos mais espaciais de grande porte têm tábuas verticais apoiadas por polígonos de contraplacado queimado que se estendem no espaço. São fixados por dobradiças de latão acentuando a sua mobilidade. Apesar da sua escala não constituem uma estabilidade estatuária, bem pelo contrário: sugerem uma grande fragilidade, suspensos no momento durante a permanente metamorfose.
O processo de criação da Susana não está baseado na certeza de uma evidência. É o princípio da dúvida que a motiva a pisar terrenos agrestes, entrar em becos sem saída à procura de objectos e materiaischeios de histórias, vida, personalidade e afectos.
Sintra, 5 de Novembro 2017
Volker Schnüttgen
Defendo porém que uma obra bem concebida ganha a sua própria autonomia: não necessita do autor, a presença dele ou uma explicação. Necessita do público, da subjectividade do observador, da sua leitura. Esta invocação do público com a obra, a soma de múltiplas interpretações subjectivas, transforma-a num valor comum, e no caso das grandes obras-primas numa propriedade cultural universal.
Na exposição presente “ O Vazio Preenche-se” na Biblioteca da Universidade Nova de Lisboa na Caparica a autora Susana Aleixo Lopes assume a sua subjectividade no processo criativo por excelência. Nasceu naqueles rochedos rodeados pelo infinito do oceano – eternamente em movimento - no meio do Atlântico. Onde até a terra sólida de vez em quando se mexe.
Em 2007 entrou na Faculdade das Belas Artes da Universidade do Porto e a partir daí começou a odisseia no vasto oceano da Arte Contemporânea. É uma navegação sem bússola, sem leme, no vazio da escuridão, sem luar com as estrelas apagadas.
Os objectos das transformações da Susana são como madeiras flutuantes, encontradas a cruzar o seu rumo no vazio do mar, acolhidas e guardadas com muita atenção. Objectos aparentemente pobres tornam-se nas suas mãos nobres. Amacia-os com todo cuidado até apareceram os anéis anuais com toda a clareza. Ganham uma superfície suave com um toque sensual. Cava o centro de uma rodela de madeira minuciosamente até encontrar a medula, o embrião da árvore, e protege-a com uma lente de vidro. Acrescenta pequenos objectos – a cor dourada do latão - que como um colar ou anel de joalharia acentuam a beleza do material. Queima as superfícies com maçarico a mostrar a essência do Ser orgânico: o carbono de um negro absoluto.
Os trabalhos mais espaciais de grande porte têm tábuas verticais apoiadas por polígonos de contraplacado queimado que se estendem no espaço. São fixados por dobradiças de latão acentuando a sua mobilidade. Apesar da sua escala não constituem uma estabilidade estatuária, bem pelo contrário: sugerem uma grande fragilidade, suspensos no momento durante a permanente metamorfose.
O processo de criação da Susana não está baseado na certeza de uma evidência. É o princípio da dúvida que a motiva a pisar terrenos agrestes, entrar em becos sem saída à procura de objectos e materiaischeios de histórias, vida, personalidade e afectos.
Sintra, 5 de Novembro 2017
Volker Schnüttgen